Morgana Maria Pessôa Soares
(05 abr. 2019)
Não há uma categorização fechada acerca dos elementos constituintes dos chamados recursos estilísticos, porque ela engloba tanto as figuras de linguagem em forma escrita e falada (verbais) quanto em expressões faciais e gestos corporais (extra verbais) e nas imagens do cotidiano (não verbais), cada vez mais integrada à comunicação verbal.
O que categoriza as figuras de linguagem, por exemplo, nem sempre coadunam com os efeitos de sentido que, potencialmente, produzem. É o caso, por exemplo, das metáforas cotidianas, não empregadas nos textos literários e, por isso, pouco estudadas na Educação Básica, em que as metáforas são conceituadas como figuras que desviam o sentido de uma palavra ou de uma expressão, passando de um sentido literal denotativo para um sentido figurado, ou conotativo. Os estudos são pautados em textos poéticos e/ou com função poética.
Entretanto, conforme Ferrari (2011), “a metáfora está relacionada à noção de perspectiva”, ou seja, à perspectiva do enunciador, de suas experiências. Por isso, o efeito de sentido só acontece entre enunciadores que compartilham o mesmo código e/ou a mesma variante cultural de um código. A frase “eu me sinto bem próxima da minha irmã” dita para alguém que tome a expressão “bem próxima” no sentido literal de proximidade física, não completará o sentido pretendido, prejudicando a comunicação: sua irmã morreu e você está tendo uma experiência mediúnica? Outro exemplo usando semelhante metáfora espacial: “ela é uma pessoa distante”. Ué, mas ela está ao seu lado... O mesmo ocorre com a temperatura: “você é uma pessoa fria”. Não sou não, minha temperatura é de 36 graus, como a maioria das pessoas. Ou: “estou pegando fogo!” E receber um balde d’água para apagar o fogo.
Cotidianamente, as metáforas são usadas de acordo com os compartilhamentos dos interlocutores, principalmente através dos gêneros do discurso. É comum, por exemplo, relacionarmos numa receita de bolo: acrescente três xícaras de farinha de trigo”. Se compartilharmos o elemento xícara como medida, a comunicação será efetivada, mas se essa informação não for comum aos que se coenunciadores, estragará o bolo.
Em muitos casos, estamos tão envolvidos com os sentidos produzidos por termos cotidianos que nem atinamos para o que denotam. Quando argumentamos, buscamos palavras que sustente os que estamos dizendo... ops... pilastras sustentam, concreto sustenta, mas palavras não. Entretanto, assim como um prédio, nossos argumentos podem “desmoronar” se compartilharmos esse sentido.
Ferrari (2011) indica, ainda, a transmutação entre tempo e espaço e entre espaço e movimento, como em “Já estamos perto do Natal”. Sendo o Natal uma data e, portanto, intangível, não há como literalmente usar medidas espaciais. Outro exemplo é “Daqui pra frente o curso será mais difícil”, literalmente “daqui em diante”, mas que nem nos damos conta do uso do termo espacial (frente, trás).
O Natal também é comumente usado como personagem: “O Natal está chegando”. Outra relação de tempo como entidade pode ser observada em “O tempo voa”, “O tempo não para”.
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